À Margem

Estar à margem é estar dentro. Mas pelas beiradas, num ritmo diferente.

É, dentre tocos de madeira, pedras e lodo,

Beber da água da razão,

mas alimentar-se de fantasia.

Estar à margem é estar dentro, mas sempre do outro lado -

Olhar de fora para quem não está.

Mover-se na ilusão de parar.

Ilusão esclarecida, talvez,

Um auto-iludir-se, se for,

Mas nunca enganar.

Porque estar à margem é ser alvo

e nem ligar.

É refratar.

É fogo-fátuo.

É, sobretudo, negar.

Afundar a cabeça, molhar os cabelos.

Fingir por alguns segundos ter visto a Vida, afinal,

até ter que voltar, respirar.

Estar à margem é conquista, não fim.

É estado de urgência; tomada de fôlego.

Saudade daquilo que se sonha quando acorda.

Ou sequer despertar.

É ter abismos em si

e mergulhar.

É se assustar.

É ainda guardar o dom pecaminoso,

Mal-falado, nefasto, aterrador,...

O ingênuo e humano dom

Da estranheza,

Do estranhar-se.

O fardo de se espantar.

É, enfim, mas não por fim,

ter no não-lugar da busca

seu único e derradeiro lar.

Diogo Nunes
Enviado por Diogo Nunes em 22/05/2009
Reeditado em 15/03/2010
Código do texto: T1608961
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