RESTOS DE MADRUGADA
Piso a grama úmida
- da madrugada, foi o que restou.
Nem gritos nem sussurros contaram
depois da despedida da noite.
O odor da atmosfera proclama a chuva
-aquele cheiro que se pressente de longe
até mesmo do alto dos morros.
As moradias ainda são sonolentas
e se espreguiçam com a lentidão.
No relógio de pedra, a sombra do sol se projeta.
Aos poucos, almas-de-gato, joãos-de-barro e anus
descem ao chão vasculhando atentamente.
Em suas penas, o brilho das cores resplandecentes.
Graúnas gritam de cima do Fícus carica
saudando efusivamente a carroça
que desce a encosta do rio torto.
O milharal se encrespa com a ventania
anunciando o trajeto firme e veloz dos cúmulos-nimbos.
Na terra, se levanta um vapor depois de tanta seca.
São Paulo, 30 de março de 2004.