RESTOS DE MADRUGADA

Piso a grama úmida

- da madrugada, foi o que restou.

Nem gritos nem sussurros contaram

depois da despedida da noite.

O odor da atmosfera proclama a chuva

-aquele cheiro que se pressente de longe

até mesmo do alto dos morros.

As moradias ainda são sonolentas

e se espreguiçam com a lentidão.

No relógio de pedra, a sombra do sol se projeta.

Aos poucos, almas-de-gato, joãos-de-barro e anus

descem ao chão vasculhando atentamente.

Em suas penas, o brilho das cores resplandecentes.

Graúnas gritam de cima do Fícus carica

saudando efusivamente a carroça

que desce a encosta do rio torto.

O milharal se encrespa com a ventania

anunciando o trajeto firme e veloz dos cúmulos-nimbos.

Na terra, se levanta um vapor depois de tanta seca.

São Paulo, 30 de março de 2004.

Marcela de Baumont
Enviado por Marcela de Baumont em 23/05/2009
Código do texto: T1610495
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