Terra à Vista
Talvez seja tarde demais para se ouvir os violinos no telhado,
talvez seja cedo demais para se levantar da cama,
quem sabe algumas gotas de chuva estão chegando de mansinho
ou as libélulas não queiram mais pousar nos açudes...
Bem sei que as horas se espreguiçam na volta da Terra,
enquanto os balões de hélio valsam atrás das nuvens.
Um ritmo de acordes dedilhados percorre o vale,
as montanhas se vestem de verdes incontáveis, constratantes,
que beijam a palidez da areia fria, namoradeira do luar.
Saem ao encontro da cachoeira as pedras polidas,
os cascalhos irregulares, as folhas, as penas, as plumas.
O vento, velho amigo de todos, traz as novidades de longe,
de onde a neve cai, os lobos uivam, os ursos hibernam.
Todas as cirandas vão ponteando as curvas do penhasco.
Lá embaixo as ondas quebram-se, espumam, tontas do murmurar
do oceano, o gigante que se estende de lado a lado,
na infinidade dos pensamentos soltos do velho continente.
São Paulo, 13 de janeiro de 2004.