Ciúme do Pôr-do-Sol

Sharik Letak


Do meu amor estando, ela, confusa

Eu disse: Tu, meu bem, és minha musa,

Eu versos te farei em borbotão.

Mas ela com um ar um tanto incréu,

Me disse, com olhar fito no céu:

Mas tu, meu bem, não és um canastrão?!


Então, o sol, pintor muito atrevido,

O céu encheu de um lindo colorido

Do meu amor chamando a atenção.

Seu riso de artista convencido,

Deixou-me um bocado aborrecido

E um tanto enciumado, por que não?


Deixou-me bem ali, pobre poeta,

Com cara de vencido, de pateta,

Com a folha de papel em minha mão.

Como competir com o astro-rei?

Sou mau poeta e pintar não sei,

Como conquistar seu coração?


Vendo que meu bem somente via

Aquela obra-de-arte que enchia,

Todo o céu com seu lindo clarão,

Rasguei os versos que lhe escrevia

E fiz do dia que entardecia

A minha enraivecida inspiração.


Saiu este poema. E o que se deu?

Tomando-o de mim, ela o leu,

E achou que eu tinha alguma vocação!

Então lhe fiz os versos que queria

E ela os leu, e em meio a euforia,

Deu-me um beijo ardente de paixão!


São Paulo (SP), 18 de outubro de 2009.