A PONTE

Lá naquela casinha de madeira bruta e caiada,

Fincada no pé da serra onde nasciam as trovoadas,

Onde o vento se enervava e me fazia medos,

E as noites escondiam monstros e fantasmas,

Na sua frente passa um rio lento e teimoso,

Sobre aquele rio tinha uma ponte estreita e longa,

Que balançava sempre, como se brincasse com ele,

Alheia a sua pujança vagarosa e constante vale abaixo,

E por ali eu ia e vinha, e às vezes parava e pensava,

E deixava o sonho tomar forma e me levar com as águas,

Quantas folhas joguei naquele rio que corria sempre,

E na preguiça das tardinhas que já anunciavam a noite,

Eu perdia as horas vagando no passar das águas,

Sobre a ponte abusada que cortava o rio e não o temia,

E seguia em quimeras mil, com águas pela vida afora,

Olhava a serra, olhava o rio, olhava a ponte,

Olhava as águas que corriam como corria o tempo,

E via a casa, a chaminé, a fumaça subindo ao céu,

Que se misturava às nuvens, que levavam meus sonhos,

Dançando ao cântico vindo das aves do terreiro,

Quanta água vi passar daquela ponte soberba,

E quantos planos coloridos foram-se com ela,

Ficaram contudo as lembranças em aquarela,

Formada das cores, aromas sonhos e lembranças,

Daquela ponte que me levava de um lado a outro – da vida

Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 11/12/2009
Reeditado em 23/12/2009
Código do texto: T1971895
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.