As noites da cidade
Não há luzes no firmamento.
Tudo é uma escuridão quieta.
O ser permanece como está.
As ruas desertas a esta hora.
Que horas são?
Que importam as horas?
Os sons todos foram dormir.
É tarde para qualquer coisa.
Passos e respiros suspensos.
Não se ouve a voz do nada.
Como um deslumbrar,
É possível estender a visão
Até as fronteiras luminosas,
As casas nos limites da cidade.
Que horas são?
Que importam os tempos?
As coisas sustentam outras coisas
E as correntes da vida explicam algo:
São cadeias que se movem estáticas,
Do nascer ao pôr da morte.
Quando os ruídos terminam,
Todos se encolhem em si, em seus destinos.
Aí, é quase certo que um amor aconteça.
A cidade em sua morbidez, aquieta-se.
Sonda o deserto das casas,
Os leitos,
Os prefeitos,
As virgens,
Os gemidos.
As coisas entram pela noite,
E tudo toma sua forma,
Com os mistérios da solidão
E seus universos.
Que horas são?
Que importam as eternidades?