Que Poesia?

Por que esta poesia de pedra,

Que ressoa nos tímpanos,

Sem qualquer som agradável?

Por que esta poesia tecnológica

Que me apraz e faz os versos cinzentos,

De puro fel de uma dor que não existe?

Por que esta cor cartesiana

A esconder colorações imperfeitas

Dos interiores invisíveis?

E pensar que tudo isso é ilusão,

Tanto em céu, tanto em asfalto,

As pedras e os elevadores,

Os edifícios ao alto

E as mentes cá embaixo,

Sorrateiras, como lontras no cios.

Ora, o que esperamos ser

Com esta poesia de escritórios,

De úmidas visões líricas,

Como a sobrevoar casas e sonos,

Tentativas vãs de conter o universo.

Os computadores, os números,

As contas exatas,

A mensuração de tudo e todos,

Uma poesia distante dos rostos,

Tela imberbe que nada penetra,

Sonolenta e tardia,

Esqueceu-se das praias,

E das marés e das noites

Que pulsam como são,

Sem as pedras contadas como tijolos,

A construir poesias de treliças,

Subterrâneas e gélidas.

Não, meus senhores, construamos

Uma poesia que se sustente por si,

Que seja a vertente do mais íntimo essencial,

A poesia que se revela em cada espaço vácuo,

Entre nossa mente e as pedras que não falam.

Grego
Enviado por Grego em 11/08/2006
Código do texto: T214129