SOU COMO UMA CRIANÇA

O tempo passa e o silêncio desce

Traço o último ohar sobre este dia

Já a sombra da noite aparece

Já surge a monotonia.

Nada mais repousante que esta hora!

A sombra da noite caindo

Ver o Sol distante a ir embora

E as giestas de amarelo vestindo.

Cantam ralos sem parar

E não param na ribeira as rãs de coaxar.

O burro tira ainda a àgua à nora

E já o dia sem lamento vai embora.

Mergulho meus dedos na escrita

A mim tantas perguntas faço!?

No Mundo tanta desdita

Tão pouco amor, falta de abraço.

Tiro um livro da estante

Pensando numa razão para a vida

Fecho os olhos me sinto perdida

Deixo o pensamento distante.

Escrevo, sobre coisas de pouca monta

Escritos que dão pouco fruto

As lembranças já me deixam tonta

Perco Vida a cada minuto.

Sou como uma criança

Tal qual se manifesta

Ora alegre e com esperança

Mas logo sem vontade de festa.

Leio um livro ofertado

Que fala de lágrimas e olhos doridos

Do presente e do passado

E de mortos não esquecidos.

De viagens sempre adiadas

Páginas e páginas tristes,

em tristeza mergulhadas.

Pergunto-me porque estou triste

Se, porque mais um dia passou

Ou porque a tristeza insiste

Em me pôr mais triste do que já estou.

Não leio mais por hoje

Apagou-se o fogo na lareira

Já a vida me foge

Ela que ardeu em mim a vida inteira.

natalia nuno

Escrito no silêncio da aldeia, só ouço agora o piar dos pássaros escolhendo ramo para prenoitar