Alma Viajante

Por que viajas tanto alma minha,

não vês que ao teu encalço presa eu sigo,

não sabes que ao teu lado eu prossigo,

e assim descarto o mal que se avizinha?

Por que não te acomodas calmamente,

por entre os azulados tons do mar?

Porque não te sossegas displicente,

deixando-te banhar pelo luar?

Por que não te acomodas nas neblinas

das serrras, cujo verde se escondeu,

ou na pequena estrela que acendeu...

a luz que agora há pelas esquinas?

Por que teimas em ser, tão sonhadora,

e andarilha, vagas nos quintais?

Por que a teimosia arrasadora...

que baila leve ao lado dos pardais?

Por que o sonho aplaca teus temores,

por que deslizas ao sabor do vento?

Por que voar, no mesmo movimento...

das nuvens que sussurram seus amores?

Por que a intensidade e a beleza

de tudo o que descreves nunca é plena,

e pensas que o sol e a natureza...

não cabem na tua letra tão pequena?

Por que passeias pelo infinito,

brincando de tentar ser imortal?

Por que te atrai o tempo irreal,

e calas o silêncio em alto grito.

Por que tu és assim: incoerente,

e morres quando vives só de amor,

e brota um lindo verso da semente,

regada pelo pranto da tua dor?

Por que minh'alma, livre e viajante,

me fazes tão faminta e inquieta?

Por que não te sacias um instante,

por que pulsas assim... alma poeta?

Dete Acioli
Enviado por Dete Acioli em 23/05/2010
Reeditado em 24/02/2011
Código do texto: T2274812
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