CASQUINHA DE SORVETE

Do outro lado da rua

Onde eu moro

Existe um casarão colonial

Com muitas janelas na frente.

Outrora, ali

Em dias de festa

Donzelas casadoiras

Debruçadas nos cotovelos

Trocavam olhares e suspiros

Com os cavaleiros

Que passavam defronte.

Numa tarde qualquer

Arrombei uma das janelas

E mergulhei na penumbra

Daqueles cômodos enormes.

Das paredes amarelecidas

Envolta em teias de aranha

Uma galeria de retratos antigos

Me fitava com desconfiança.

Pelos quartos mobiliados

Havia leitos em desalinho

Ainda mornos do amor-primeiro

Daquelas virgens apaixonadas.

Na varanda do quintal

Tiritando de frio

Um diabinho choramingava

Praguejando contra a chuva

Que lhe derretera os chifres

Feitos de casquinha de sorvete.

dilermando cardoso
Enviado por dilermando cardoso em 20/06/2010
Reeditado em 03/03/2011
Código do texto: T2331785