NOITE
Noite boa. Noite má. De prazer e dor
De romântica penumbra ou escuro breu
De fugidias musas vendendo amor
Cantigas cantaroladas ferindo Orpheu
Noite dos mil segredos divulgados
Explodindo na média luz de um boteco
Em tom de confidência, desabafados
Por angustiadas gargantas de pileco
Noite de sensuais danças cambaleantes
Da lânguida carícia meiga, enternecida
Declarações de amor, fugazes, ofegantes
Nesse mercado compradas por medida
Noite de milhões de luzes cintilantes
Vagabundos a céu aberto adormecidos
De imaginárias silhuetas horripilantes
De magnatas carentes, empedernidos
Noite de reflexão, temor e desatino
Mil fantasmas em turbilhão chegados
Noite que cumpre o traçado destino
Tétrico e vil refúgio dos desamparados