A GAIVOTA

Vens de longe, do infinito

e mergulhas como em teu derradeiro ato.

Morres, então, com teu passado irrelatado

e num Dé Jà Vu recorrente, renasces

para novo mergulho, celebrando a vida,

sem que o saibas ou intuas.

De repente - com teu bando

Burundangas!

Cruzas plena alvinegra

o celeste azul, contra o azul

plúmbeo do intenso mar.

E te misturas também

à grei das pedras.

Fugacidade. Cortas o céu

com teu sentido de urgência.

Uns te chamarão de passarinho

em sabida ignorância!

Tamanho “Passarão”!

Competente pescador

que te invejam os pobres

homens, distantes, na areia.

Em geral, teus vôos falam do teu prazer

e de tua precisão concisa.

Teu sobrevôo releva a sedosidade

do mar, que, inda que bravio

é simples cenário para tua beleza.

O peixe – apenas frugal recompensa.

Ricardo S Reis
Enviado por Ricardo S Reis em 18/01/2007
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