QUEM SABE...


Se me fosse dado a graça da inspiração
Nem importaria o tema, haveria de fazer versos
Lindos, extraídos da minha emoção,
Ainda que tivesse que sobrevoar o universo.
Porém, me faltam asas para tanto;
Assim como me sobra a amplidão e os reversos
Que na vida caprichosa, são somente sonhos.

Em todo caso, assim mesmo eu tentaria,
Porque ao ler tantos poetas, inspiração não falta,
Mas falta-me o conteúdo, falta a calmaria,
Sobram tristezas e a solidão me embala,
Solfejando mansamente alguma cantoria
Que eu não reconheço, mas docemente me acalma.
 
Se por acaso ao invés da saudade, somente a solidão
De minha alma viesse tomar conta, quem sabe eu não conseguiria,
Chegar bem perto com a minha emoção,
Deixando o coração gritar silencioso, eu até cantaria.
E assim sendo, ao transformar o pranto, a inspiração
Traria vida a este meu cansaço, e assim também, eu ressuscitaria.