O GUARDADOR DE REBANHOS - Alberto Caeiro

Sou um guardador de rebanhos.

O rebanho é os meus pensamentos.

E os meus pensamentos são todos sensações.

Penso com os olhos e com os ouvidos

E com as mãos e os pés

E com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la

E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor

Me sinto triste de gozá-lo tanto,

E me deito ao comprido na erva,

E fecho os olhos quentes,

Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,

Sei a verdade e sou feliz.

Alberto Caeiro é considerado por Fernando Pessoa como seu mestre (porém é um heterônimo criado por ele). Espécie de poeta-filósofo, que extrai seu pensamento não de livros nem da civilização, mas de seu contato direto com as coisas e com a natureza, Alberto Caeiro crê que o homem complicou demais as coisas com a metafísica, com suas teorias filosóficas e científicas, com suas religiões. Por isso defende a simplicidade da vida e a sensação como único meio válido para a obtenção do conhecimento.

Alberto Caeiro
Enviado por Hugo Heringer em 03/03/2013
Reeditado em 04/03/2013
Código do texto: T4170089
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