A PORTA DO GUARDA ROUPAS ME ABRIU UM LADO
a porta do guarda roupas
me abriu um lado
e
[lá de dentro
entre calças amassadas
pacotes prudence
e algumas moedas de cinco centavos
[estava a sua foto
meio escondida
servindo de marca página
num livro de crônicas
do nei leandro
achou a toalha?
[laura me disse
rasgando
a lembrança
daquele dia que tomamos
[sorvete de creme
sentados na grama do carrefour
[lembra?
foi primeira vez que’u disse
jamais vou embora
mas eu fui
achou a toalha
porra?
eu
toda melada
[ela disse
e você ai
olhando a merda
desse retrato
quem é essa putinha?
[ela disse
putinha é o caralho
repondi
[jogando a toalha nela
[putinha
é o caralho
toma essa merda de banho
e não me enche o saco
ah
vá tomar no cú
[ela disse
antes de entrar no banheiro
e você
fode mal pra caralho
[continuou lá de dentro
a porta do guarda roupas
me abriu um lado
o mesmo das gavetas
[aquelas das calcinhas
que sempre estavam quebradas
[lá de dentro
entre o que eu sou
e o que ainda existe de você
[em mim
encontrei um retrato
já não vejo mais teu rosto
já não beijo mais teu rosto
[teu rosto
me abriu uma porta no peito
me emperrou a palavra na garganta
[me fodeu
quero ir embora
[ela disse
adeus
e quando eu fui
pra nunca mais voltar
jamais pensei
[que
a porta do guarda roupas
me abriria o peito
pra nunca mais fechar
pra nunca mais
se abrir