A PORTA DO GUARDA ROUPAS ME ABRIU UM LADO

a porta do guarda roupas

me abriu um lado

e

[lá de dentro

entre calças amassadas

pacotes prudence

e algumas moedas de cinco centavos

[estava a sua foto

meio escondida

servindo de marca página

num livro de crônicas

do nei leandro

achou a toalha?

[laura me disse

rasgando

a lembrança

daquele dia que tomamos

[sorvete de creme

sentados na grama do carrefour

[lembra?

foi primeira vez que’u disse

jamais vou embora

mas eu fui

achou a toalha

porra?

eu

toda melada

[ela disse

e você ai

olhando a merda

desse retrato

quem é essa putinha?

[ela disse

putinha é o caralho

repondi

[jogando a toalha nela

[putinha

é o caralho

toma essa merda de banho

e não me enche o saco

ah

vá tomar no cú

[ela disse

antes de entrar no banheiro

e você

fode mal pra caralho

[continuou lá de dentro

a porta do guarda roupas

me abriu um lado

o mesmo das gavetas

[aquelas das calcinhas

que sempre estavam quebradas

[lá de dentro

entre o que eu sou

e o que ainda existe de você

[em mim

encontrei um retrato

já não vejo mais teu rosto

já não beijo mais teu rosto

[teu rosto

me abriu uma porta no peito

me emperrou a palavra na garganta

[me fodeu

quero ir embora

[ela disse

adeus

e quando eu fui

pra nunca mais voltar

jamais pensei

[que

a porta do guarda roupas

me abriria o peito

pra nunca mais fechar

pra nunca mais

se abrir

Gonzaga Neto
Enviado por Gonzaga Neto em 23/01/2016
Reeditado em 23/01/2016
Código do texto: T5520214
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