Como cinzas

minhas palavras são como cinzas

da bituca de cigarro

qu'ela acabou de jogar no chão

e sem querer

(talvez querendo)

pisou em cima

de pé descalço

desenhando meia dúzia palavrões

no quadro negro ar

PORRA!

me disse olhando nos olhos

que se escondiam atrás de pálpebras

cobertas de sereno

PORRA!

andando por cima de papéis

escarrados de poemas

que se perderam no chão

depois de fugirem dela

PORRA!

meus pés pisando nu asfalto peito

esmagando costela por costela

a cada carícia na virilha

mãos nus seios

dedos médio na boceta

e porra na cara

PORRA

SOME DAQUI

MAS FICA

só até a chuva parar

ela disse

só até as verdades te esfregarem

a cara no asfalto

e o tempo deixar de brincar de

e se

fica logo

PORRA

que já tá fazendo calor

o sol logo baterá na janela

e talvez entendamos

que já tá tarde demais

- é hora de acordar!

Gonzaga Neto
Enviado por Gonzaga Neto em 06/06/2016
Código do texto: T5658741
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