Como cinzas
minhas palavras são como cinzas
da bituca de cigarro
qu'ela acabou de jogar no chão
e sem querer
(talvez querendo)
pisou em cima
de pé descalço
desenhando meia dúzia palavrões
no quadro negro ar
PORRA!
me disse olhando nos olhos
que se escondiam atrás de pálpebras
cobertas de sereno
PORRA!
andando por cima de papéis
escarrados de poemas
que se perderam no chão
depois de fugirem dela
PORRA!
meus pés pisando nu asfalto peito
esmagando costela por costela
a cada carícia na virilha
mãos nus seios
dedos médio na boceta
e porra na cara
PORRA
SOME DAQUI
MAS FICA
só até a chuva parar
ela disse
só até as verdades te esfregarem
a cara no asfalto
e o tempo deixar de brincar de
e se
fica logo
PORRA
que já tá fazendo calor
o sol logo baterá na janela
e talvez entendamos
que já tá tarde demais
- é hora de acordar!