psicóloga

a psicóloga disse pr'eu me afastar da literatura infeliz

dos poemas bucólicos que falam de dor sujeira e putaria excessiva

e que isso me faria bem

"talvez seu humor melhore com algo mais light, que tal pessoa?"

ela disse

eu sorri

talvez as conversas de mesa de bar com nietzsche freud e jung

tenham afastado-a da poesia

ou talvez da vida

ou talvez

e até mais provável

eu não conheça

de fato

pessoa como acho que conheço

assim como não sei nada de nietzsche freud ou jung

não se engane

eu sou pouco

eu só me passo

a psicóloga disse pr'eu não me estressar com a injustiça no mundo

que vou conseguir bem mais cabelos brancos que mudanças efetivas na sociedade

"ao invés de abraçar o mundo com as mãos, foque apenas em área"

eu sorri

minha perna nervosa começou a mexer

meus olhos começaram a procurar os cantos de paredes

é bem claro que não sou criatura fácil

é curioso observar e ser observado

e antes de'u olhar pro tempo

se antecipou

"já passamos da hora, temos que terminar por aqui"

eu sorri e agradeci

tirei a bolsa o chão e me dirigi até a porta

a maçaneta estava gelada

o calor entrou e transpassou o ar gélido da sala

"espero que volte"

eu sorri

e fui embora com mais peso nos bolsos que dinheiro

com a sensação estranha de que viajo mais que vivo

que a bad que me ronda só irá embora carregando a literatura

e o que me resta no fim das contas é um aglomerado de ideias

desconexas

sem pontos finais

no peito e no papel

talvez

eu esteja enlouquecendo

talvez

eu esteja no caminho certo

Gonzaga Neto
Enviado por Gonzaga Neto em 23/07/2016
Reeditado em 27/08/2016
Código do texto: T5707038
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