Casada comigo
Da janela cinzenta me espreitam as folhas oxidadas de outono...
Mal conseguem vibrar ao frágil sol da manhã...
Já lavadas pelas ternas mãos sedosas da chuva, me dizem,
cautelosas, em segredo, os necessários deveres da realidade...
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Nem respondo... O coração
apertado nos garrotes da subsistência
– antes me calo. Fecho
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bem os olhos à janela cinzenta,
mai-là sua cercadura de folhas vermelhas
a dançar
para me aquecer
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Oh... Lá está o mar, minha casa de liberdade,
à minha espera,
a receber-me em sua esfera de cristal!
Onde – labiríntico turbilhão sem fim – viajo
sem forjar porto de abrigo... Sozinha...
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...casada comigo
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© Myriam Jubilot de Carvalho
3 de Outubro de 2001
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Este poema faz parte do conjunto VIAJANTES,
publicado na colectânea, colectiva:
POETÂNIA, editora HUGIN, Julho de 2003;
Conjunto VIAJANTES, página 86
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