Até que venha a Primavera

Passeio por entre árvores desnudas e impotentes,
Num acastanhado arrebol, aonde se esconde o sol.
Sob os meus pés, macio tapete de folhas salientes,
Que se abraçam ao vento frio que assovia insolente.

Adeus manhãs perfumadas que me aqueceram!...
O vento fere flores cujas pétalas caem por terra.
Já não exalam suas deliciosas essências pelo ar,
Lírios, rosas, lavandas, gardênias e os manacás.

Foram embora minhas tardes quentes, perfumadas.
Farfalham  folhas secas que bailando ao meu lado,
Parecem sussurrar recordaçoes nos meus ouvidos,
Lembranças quase adormecidas, sob o céu dourado.

Ternas memórias que dentro de mim ainda habitam,
Mesclam-se eternizando o que meu coração filtrou,
Misturando-se aos tons ouro e magenta do Outono,
Evidenciando aquilo que um dia meu olhar guardou.

Nas telas retrato essas paisagens em tons pastéis,
O inverno cinzento de pálidos dias onde o frio impera.
Até que transmutem as estações, com meus pincéis,
Matizarei minh'alma com cores até chegar a Primavera.

Denise Alves de Paula
05.06.2018