Barco, brumas e gente

Barco

Como gente

Por dentro e por fora

Matéria e história

Num rio perene

Numa lagoa tranqüila

Ou num mar agitado

Se reveste da coragem

Das brumas já sentidas

Dos tripulantes já ausentes

Dos caminhos já idos.

Barco

Como gente

Nos fascina de repente

Pelo tamanho e pela cor

Pelo destino prometido.

Olhamos os remos

Quem os moverá?

Fecho os olhos

Vejo o barco da vida

À beira da água

Pedras redondas, calcando-lhe a parada

A frieza da verdade

Lambiscando sua madeira

Ao sol vêm saltitando as idéias

De ir além, muito mais do que o horizonte

Há capim roçando os seus lados

Recordando o porto seguro

Contudo balança-o o vento.

Água, âncora.

Barco

Como gente

Que não entende se fica

Ou se parte

Contempla as nuvens

São elefantes infantis

E dragões que fitam seus passos

Marinheiros, passageiros.

Deixa a corda solta

Não joga o peso

Segredos, só a madrugada os conhece

O barco

Fareja o fervor dos raios de sol

Novo dia

Novo tempo

Reparos no casco

Tantas viagens que hão de vir

E outras que deixaremos de ir

Gente e barco.

Valéria Britto
Enviado por Valéria Britto em 21/10/2007
Código do texto: T704096
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.