Soturno
Há dias que não amanhece em mim
há dias que a vida vestiu-se de noite
e repete todos os dias o mesmo espetáculo
e eu, em meio à essa trama soturna, divago
Divago entre brumas escuras que me encobrem
vago entre sombras neuróticas que me cercam
vascilo, por vezes diante do medo que permeia
oscilo entre o eco dorido dos gritos e uivos
e a sensualidade das sombras que me seduzem
Sou muitas vezes dor, solidão e medo
Outras tantas, valentia, ousadia, segredos
sou amante indolente, sou leoa faminta
infante inconsequente, poeta em tormenta
sou a própria incerteza da vida
Sou nesse espetáculo absurdo
a interrogação, o grito mudo
Que retumba e ecoa profundo...
Que os aplausos me valham
que as cortinas descerrem
e as vestes negras declinem
que o Sol se compadeça
e que eu, atriz de mim mesma
novamente amanheça!