Elegia Bucólica

Vozes íntimas que estalais da Veiga

Buquê de memórias dos instantes caros

Transbordai do coração na estância meiga

Na essência tranqüila dos perfumes raros

Que trescalam as efusões dos êxtases perfeitos

Claro céu, espelho dos sublimes remansos,

Rede de albergais o hino e o pejo,

Dolentes são os castos encantos

Sem busca de falos ou curvas de beijo

Em inocência descanse, pois ante o santuário

No regaço redentor, regenerador da natureza,

Sem passado e sem futuro mergulha o presente

Imensos são os glaucos hinos sossegados

Boiando a flor da amplidão suspensa

Ecoam suavemente na grata alma

De clarões e de amplas calmarias expandido

Sinto o calado rumorejar dos ares

O intimista perfume dos segredos

As aves que aportam sonorosas

Os acordes violoncelados das esferas

Violoncelos ao luar e a tua boca

Sob parreirais ou carramanchões extáticos

Pouco importa a hora, é de infinito

O êxtase dos pardais voa no peito ilimitado

As ternuras com os verdes ramos se entrelaçam

O bálsamo da manhã como tem ternuras

Como se exalta em perfeições lânguida a tarde

O poente nos envolve em sangues de confissões

E a noite em remansos de estrelas adormece

Embalando no seio o criador generoso

E a grata criatura, extasiada de sua essência.

Pede o feliz anjo que o mundo tumultuoso

Ao berço dos esplendores se assemelhe

Que flua manso qual terno regato

Que com os corcéis da alvorada se emparelhe

Bocas, alentai-vos nos êxtases sagrados

Hinos, esvoçai ondeantes de comovidos olhos

E vós instantes, sê intimamente amados

Nos castelos ideais de lânguidos desvelos

A natureza, essa mulher serena e augusta

A todos os filhos bendita em paz acolhe

Transbordam de sua vasta alma generosa

Cardumes de alentos, formosas belezas,

Insuperáveis consolos aos humanos tormentos

Tudo em seu plácido albergue são contentamentos

Sereníssimas vozes de luz e paraísos

Qual a caricia grata dos sorrisos

Qual o mimoso enredo dos aromas

São as veigas de esmeralda, os ares de diamante.