ARRAIAL DE SÃO JOÃO
Nunca vi povo mais animado
Que do Arraial de São João,
As barraquinhas enfeitadas
Esperando a procissão;
E o mastro muito iluminado
Tudo ganhava admiração.
Subiam foguetes coloridos
Iluminando o céu num clarão.
O repique do sino ecoando
Enquanto a banda tocava
Música festiva para o Santo Cristão.
Passava o "correio do amor",
Deixando um recadinho apaixonado;
Pois muita gente sem coragem,
Com um olhar disfarçado,
Aproveitava o momento
E mandava seu secreto recado.
O cheiro de canjica se espalhava
Dava um apetite danado!
O conhecido cheirinho do cravo
E do saboroso amendoim torrado.
A pipoca era certeira!
O quentão era o mais procurado,
E para dançar a noite inteira
Tinha que provar mais um bocado,
Pois o vento frio cortava,
E abraçadinho só ficava
Quem tivesse um namorado!
“Vai começar a quadrilha!”
Gritava o marcador animado.
Os pares logo se formavam
E de braços dados ficavam.
As mocinhas muito enfeitadas
Com seus vestidos floridos e rodados,
E nos rapazes só se via
Camisa xadrez e calça remendada,
O chapéu de quase todos, desfiados!
Música boa soava alto!
Até o vigário arriscava uns "passinhos",
As beatas indiscretas indignavam!
“Esse...já desviou do bom caminho!”
Ele fingia que nada percebia
Pra dançar mais um pouquinho!
E as solteiras aproveitavam
para a simpatia depressa fazer
enquanto algumas casadas invejavam
a liberdade que deixaram de ter!
E o Santo do alto olhava
E pensava como resolver:
“São tantos pedidos que recebo !
Aos pouquinhos vou atender.”
E assim atravessava a madrugada
Enquanto a fogueira acesa num canto
Aquecia quem por perto ficava
Na noite mais fria do ano,
Numa roda de conversa animada
E ao longe o som da sanfona continuando. . .
E . . . Viva São João!