Pilefatos

N’uma noite, em que a lua era a única presente, a uns bilhões de anos atrás, alguém se sentia tão só, que olhando para o universo, quis rever nos seus versos, o viver do progresso de sua cultura pilenar.

Tomando como parte, a cultura, o espaço a sua frente, fez criar tão rapidamente algo que a Ele pudesse transportar, e criou uma aeronave tão bela e tão perfeita, que os seus comandos eram por sentidos, que com o passar de alguns segundos, sem que Ele algo fizesse, virou aves do mundo.

Satisfeito com o que viu, quis querer e foi ao mar, onde olhando o azul celeste, quis fazer um outro teste; fez então de modo sábio uma nave aconchegante que o levasse as profundezas dessas águas tão distantes, foi, e mostrou seus conhecimentos de um modo tão sutil, que ao chegar a praia rasa sua nave re-partiu.

Ele achou aquilo engraçado, que de modo, que olhando pro mato, tanto verde com tanto trato, que resolveu n’ele adentrar, mas, precisava, Ele, de um transporte, algo que fosse ágil e forte, algo que fosse rápido e esguio, e como num toque de mágica fez presente uma máquina, a qual batizou de carro-tanque; venceu, a maquina, muitos obstáculos, até que um dia, bem lá no coração do mato, pediu ao Senhor “liberdade”, pois srvira por várias horas ao amo com amizade, foi então ela liberta.

E daí! Que num pensar tão forte quis estar no lado norte, terras belas pelo seu todo, que por gosto do seu sonho seria o éden do seu rebanho; e então que na vontade de um saber incomparável fabricou uma grande nave, que rastejando pelo chão num relâmpago de velocidade, levou tudo o necessário do que o Senhor achou de bom; e ao chegar a terra santa, como quem já não se espanta, foi dada a nave grande alforria por servir, ser réptil no porvir.

Foi então criada a máquina, a mais perfeita dentre todas, a mais serviu e a mais capaz; deu-lhe então uma carga de conhecimentos tão próprios, que fez d’ela o seu acompanhante, o seu amigo, seu confidente; e então, que numa expressão tão preocupante, partiu Ele galopante, nos olhos de um prato daqueles gigantes, num riscar qual fio de pensamento, e a máquina, que atrás Dele correra num desespero tão grande, parou diante do mar a contemplar um novo horizonte, que de novo surgia.

Não fora lhe dada à alforria, não fora lhe dada à liberdade, mas ficou a ansiedade de, Ele, de novo voltar; foram passados alguns dias e o respeito que a máquina sentia se misturou com o seu amor e saudades, nada mais, apenas lembranças.

Foi então que num repente, cruza o céu um fogo ardente que cai por pouco no pomar, corre a máquina outra vez na esperança do retorno, e o que viu foi tão terrível, que num gesto de loucura se bateu alucinada.

E foi correndo a máquina entre o fogo num final de desespero, caminhou tão debilmente que caiu na terra quente; muito tempo havia passado e o corpo da máquina entre escombros prensado no mundo ainda pensava, só que de modo diferente; pois sua mente já tão doente, tirara dele a semente, fizera dele um ente.

Vai que com esforço mongolóide, levanta de sob os escombros o mais novo e liberto humanóide, que tão tonto por tudo que via, num lance de gesto esquecia aquele que te fez cria.

E parte o ser já refeito, perfeito, sem quase defeito, a fazer, a amar, a criar; e fica no ar a pergunta: Até quando o progresso consome o que fez, o que faz os homens.

Homenagem a Carlos Drumond de Andrade pelos seus 80 anos de idade.

Vicente Freire – 31/10/1982.