AMADO FILHO DA TERRA
Eu sou dos fortes, nas trevas, a luz.
Eu sou dos mortos, no túmulo, a cruz.
Já fui nas estrelas
fazendo proezas de grande pureza.
Subi em pedras, desci em flores.
Eu sou o amado filho da terra.
Escrevo os quadros nas molduras frias.
Pinto os lados em futuras rimas.
Faço os olhos da menina que dança.
Vejo crescer todo homem que cansa.
Grito falando em grandes distúrbios.
Faço cidade os pequenos subúrbios.
Corro andando em florestas fechadas.
Sou tudo o que já vi nas estradas.
Trancando em mim o amor, vou abrindo fronteiras.
Deixando minha dor, sei ganhar dianteira.
Como amado filho da terra
vou tirando todos das trevas.
Crescendo em mim a certeza
de que amar é ser natureza.
Sendo do arco-íris a cor
vou lavando meu suor.
Depositando no céu a minha fraqueza
faz Ele morrer tudo que vi de tristeza.
(26/janeiro/1976)