Vai, celebra as putas todas que amaste
nos versos castos de uma estrofe impura;
sejam tuas mãos as luzes que iluminem,
com palavras, a vida alegre, plena de procuras.
Vida: mercado!  Comércio de ilusões!
Procura cálida, intensa, auspiciosa,
terrível, gargalhante de razões, de postos, de venturas!
 
Ai, vida, ai, putas, não sei dizer de mim
senão que corro, parado mesmo;
que abraço, afago, gesticulo, faltando-me mãos;
que choro invisivelmente, barco desavisado
num cais morto.
 
Tudo tão vão, tudo sem rumo, eu estou só.
Tentei tanto, abracei tanto, beijei tanto:
e após isto, ao clarear do dia,
entre meus braços e o tempo, apenas restaram
a brisa que fascina e a música que acalma.
 
Senhor, que tudo tens e podes,
por que aqui nos lançaste,
neste vale massacrante,
onde todos se chocam
mas ninguém se toca?
 
Ai, melodias de amor,
suaves passageiras do meu transatlântico em flor,
única parte restada de um tempo que passou...
Ò canto ardente, de versos bruscos,
por que me bafejaste?
Escrevi-te, mas sigo triste, foi tudo à toa.
 
Abraço a paz sem paz das rosas
que se abrem para ninguém...


                                        (escrito na juventude)
Jô do Recanto das Letras
Enviado por Jô do Recanto das Letras em 21/08/2011
Reeditado em 23/08/2011
Código do texto: T3172620
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