LETRAS VESPERTINAS
Não sei se elas se esconderam ou se não as busquei,
Elas que tantas vezes foram balbuciadas na voz materna,
Ao embalar o pequenino filho enfermo num dorido soluço,
Que foram ensinadas nas primeiras cartilhas da saudosa escola,
De repente, como num passe de mágica caíram no esquecimento.
Mas continuaram sempre à espera para reatar a roda e cirandar
Uma ciranda que recordasse a infância e juventude perdida em brumas
Que agora como avassaladora onda ameaçam emergir tumultuosas,
E ficam a brincar de esconde-esconde, doidas por serem alcançadas;
E provocam, e atiçam e tentam bailar nos lábios em forma de canção
Ou brincar na branca e virgem folha, feito rabiscos desencontrados e soltos.
Tardias letras,
Eis que me encontram já na curva do caminho, na descida da estrada da vida
Já não há mais o viço da juventude ou o frescor da mocidade;
Há somente a louca vontade de reatar a amizade antiga
E lembrar os que lhes deram as mãos e dançaram um lindo bailado
E, em versos e prosas, mostraram a beleza e o encantamento da “inculta e bela”
Bem-vindas sejam, letras amigas!
J. Mercês – 5/12/2014