Sextou

Ah, se eu pudesse...

Se eu pudesse daria um prêmio a quem a inventou.

Certamente a palavra mais bonita de nossa língua, a brasileira.

Porque ela não se limita a ser apenas uma ação:

o sextou é, acima de tudo, um estado de espírito.

Um louvor ao que acabou, vai recomeçar,

mas que no meio deu aquela brecha, aquele intervalo,

para desanuviar a alma.

Por isso está no passado: sextou.

Não tem sujeito, porque pode ser de qualquer um;

não precisa de complemento, já tem sentido completo.

É um verbo? Um substantivo?

Sei lá, é o mundo!

Você pode "sextou" sozinho, a dois, com os seus amigos.

Na cama lendo um livro, a dois vendo um filme, aos montes na mesa de um bar.

Cada um tem o seu sextou, e todos são válidos.

Porque a felicidade sempre é válida, e modos mil há de encontrá-lá.

Meu sextou da semana está aqui, por exemplo.

Ele é democrático, porém apenas para os merecedores.

Não, não tem sextou para desocupado. Me perdoem.

Estes já mal-sextam na vida...

É preciso ir à luta diária para ser digno dessa liberdade:

trabalhar, estudar, cuidar da casa, tomar conta de alguém.

Há de se não fazer mal a outrem, isso também.

Cansaço só é honesto se fruto da honestidade

(aqui, mais uma vez me perdoem - agora, pela redundância pouco inspirada).

Agradeça pelo seu segundou.

Mas o sextou...

Ahhhhh...

Aproveitem!

Dan Niel
Enviado por Dan Niel em 20/09/2019
Reeditado em 20/09/2019
Código do texto: T6749814
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