Confissão à amiga

Confissão à amiga

Amiga, teu olho é um caule que sempre sustenta

A flor da minha alma que paira sensível à tormenta

Que mesmo diante da brisa mais leve arrebenta

E nem mesmo o choro do orvalho em si não agüenta

Amiga, teu ombro é um porto seguro, é meu eixo

Pois sempre que me vem o choro me serve de lenço

Discreto regalo de um corpo que tanto desejo

Querendo o desejo selvagem que, sei, não mereço

Pereço entre os fios que teço no manto da vida

E, preso entre os nós apertados nos vãos dessa trama

Percebo entre nós um pecado acendendo sua chama

Que clama calada, lá dentro, vilmente contida

Amiga, o suspiro que exalas é o ar que respiro

No doce sabor das palavras que gastas comigo

Deitado no vão das tuas pernas, onde me retiro

Recebo o calor dos teus braços que são meu abrigo

Amiga, o rosário já gasto está se quebrando

Já pesa a batina na pele que vai enrugando

Lembrando do dia distante que já esqueceste

Mas prendeu-me ao traje maldito que ora me veste

(Djalma Silveira)