SONHOS NO INFINITO

SONHOS NO INFINITO

Juliana S. Valis

Profundo é o tempo que nos traga paz,

Em sonhos loquazes como rabiscos sós,

Na transcendência única que a alma traz,

Essência lídima que deságua em nós...

E nos passos trêmulos da consciência,

Em compassos simples, vaga a esperança,

Ultrapassando os enigmas de qualquer ciência,

Na luz que o amor constantemente alcança!

Pois nossa mente é céu e labirinto,

Escarcéu imenso de alegria e dor,

Como longa estrada da emoção que sinto

Desaguar no ápice do que seja “amor”...

Mar dos sonhos, eis a sua rima,

Sonho que declina o âmago do ser,

No cerne impróprio que o sentimento anima,

No afã inócuo de transparecer !

Sim, profundo é o tempo que nos traga paz,

Além das dores que desabam fundo,

Além do precipício que há no mundo,

Em qualquer resquício de ilusão fugaz...

E não adianta, assim, fingir-se forte,

Se o coração, no fim, é vulnerável,

Além da realidade, densa e variável,

Haverá incógnita muito além da morte?

Bem ou mal, portanto, tudo flui:

O pranto é mudo enquanto houver futuro,

O riso é simples enquanto houver escudo,

O espírito é leve quando for mais puro,

No corpo breve das imperfeições!

Leve, portanto, a sua incongruência

Ao teatro digital do mundo sempre vil !

E verá, de fato, que a impaciência

É fagulha só do tempo que explodiu,

Como um pensamento além das aparências,

Em qualquer lugar, na China ou no Brasil...

Ah, letras, variadas letras,

Voem como pássaros da liberdade !

Sonhos na tendência simples do infinito,

Templos metafísicos que a arte invade,

No aparte incólume de um breve grito,

Universal e aflito, como a humanidade !

Inaudito verso de plenitude apátrida,

Veja todo o amor que vaga tão disperso

Nas dimensões loquazes de qualquer galáxia,

Corações – planetas no auge do universo,

Sonhos e cometas de uma paz que basta !

E nada é mais profícuo que saber sonhar,

Nada é mais iníquo que a calamidade

De toda uma cidade humana a deslizar

Pelas rota insana que o desvario guarde,

Muito aquém da terra, e muito além do mar,

No que há de guerra, estúpida e covarde,

Tecnologia que nunca soube amar,

Século digital, carente da verdade !

De qualquer modo, a vida sempre desafia,

E, como eu, você pode criticar este mundo insano,

Mas sorria, meu grande amor, sorria,

Sorria por toda lágrima que lhe fez humano.