ORVALHO
(Contemplação IV)
Um tênis surrado
O cabelo amarrado
A bermuda de algodão
Já é fim de verão!
Nos lábios um batom discreto,
O cheiro e a cor de café,
Para andar entre o concreto,
Depois de um bom cafuné...
Uso um perfume suave,
Orvaille, sim, de manhã...
Pego o óculos e a chave,
Dois pedaços de maçã.
Paro ali na vizinha
Ela vem assim contente,
Se despede da filhinha,
Do marido e do parente...
Apertamos então o passo,
Aceitamos o desafio,
Nesta Terra feita a compasso,
Neste céu preso por fio...
A conversa rola solta,
E eu vou prestando atenção,
Em tudo que há em volta,
Há um jeitinho de canção!
A minha rua é tão bela
E tão cheia de contrastes,
Pedaços novos e antigos,
E as flores com suas hastes...
Lugares bem conservados,
Pintados, arrumadinhos.
E outros tão desleixados.
Cheios até de espinhos...
Cruzamos a rua lendária...
Até lá naquela escola,
Chegamos à árvore solitária,
Voltamos na mesma sola...
E a paisagem perfeita
Vai se abrindo no horizonte...
Vejo a Igreja e a ponte,
E até uma torre lhe enfeita!
Venho então aproveitando,
O ar puro, tão pueril...
Vou assim me deleitando
Com este céu, azul anil...
Há morangos nos jardins,
Coqueiros cheinhos de frutos...
Há gerânios coloridos,
Cheirando à infância, absolutos!
Os passarinhos cantando:
Bem-te-vi, Oh! Bem-te-vi!
Cachorrinhos nos acompanhando,
E eu feliz por ali!
A minha rua é tão bela,
E tão cheia de contrastes,
Que vira até passarela,
De flores, com suas hastes!