MUITO OBRIGADO!

Não se compra um amigo.
Não há lojas oferecendo amigos
a preço de custo.
Os grandes magazines
não fazem liquidação,
do tipo "compre um amigo
e leve grátis um colega de sala".
Nenhuma operadora de telemarketing
liga para as casas perguntando:
"o senhor está querendo um amigo?
a senhora está precisando de um amigo?
pode ir me fornecendo o número de seu cartão de crédito?"
Não. Amigos não são comprados,
nem compráveis;
amigos verdadeiros: jóias de extremo valor.

Amigos são algo interno,
estão dentro da alma,
não precisam dizer muita coisa.
São diários como o sol,
são motivos óbvios de saudade.
Amigos estendem a mão,
dizem sim e não,
dão força,
safanão, e gritam: acorda!
Amigos não mentem,
são sinceros,
de uma sinceridade redentora.

Amigos são poucos.
Porque poucos no mundo
se habilitam a sair de si
e se doar ao outro.
Mesmo eu, muitas vezes,
me deixo prender nas amarras
de um egoísmo chinfrim,
preocupado que fico
com minha dor
e não deixo o amigo
chegar com o ungüento
que há de me sarar.
Muitas vezes me pego
olhando para frente
sem perceber que, ao lado,
meu amigo está
prestes a cair.

Amizade é acordar
no meio da madrugada
para atender à chamada
de quem nunca deveria sofrer.
O amigo não pode sofrer.
Eu não quero,
me exaspero em pensar
em meus amigos caindo.
Aos amigos amamos
sem dizer essas frases
que, mesmo ricas, se esvaziaram
pelo excesso de canções melosas
nas rádios.
Amamos os amigos
sem dizer:
eu te amo!

Basta um olhar,
um sorriso,
um gesto que reverbera o grito:
MUITO OBRIGADO!