APRECIE SEM MODERAÇÃO

APRECIE SEM MODERAÇÃO

por Juliana S. Valis

Aprecie a delicadeza das palavras que não são ditas,

E diga adeus aos estereótipos, aos clichês,

Aos rótulos e às frases batidas...

Pois tudo isso é uma grande arte,

A arte de pensar por si próprio,

A arte de nadar contra a correnteza

Dos preconceitos e das falácias,

E, de fato, ter a coragem de discordar

De padrões quaisquer, sem medo ou violência,

Mergulhando na profunda essência do ser humano...

Sim, aprecie sem moderação essa arte,

No aparte incólume à rapidez do tempo,

Aprecie de vez a inefável delicadeza

Do sentimento que não tem preço,

Nem peso, nem rótulo, nem idade...

Aprecie o silêncio sem vaidade dos risos,

Dos rios de luz que partem do infinito

Sem rumo, entre mundos pouco habitados

De qualquer maldade...

Pois o que será da realidade sem um pouco de luz ?

O que trará, na verdade, algum sentido por trás de tudo,

Se nada ecoa o grito que a alma conduz

Pela estrada humana de um pensamento mudo ?

Pois aprecie, antes de tudo, a suavidade do afeto,

Aprecie o que não passa (entre as coisas que passam),

Aprecie sem moderação a profundidade de um riso discreto

E tudo o que há de abstrato neste mundo concreto,

Ainda que a razão vague perdidamente a esmo,

Porque, de fato, isso tudo é uma arte,

A arte indestrutível de sentir - e pensar - por si mesmo !

Sim, aprecie sem moderação

Todo modo metafísico de expandir

A arte das coisas que não vão

Sucumbir ao momento que partirá daqui.

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