COMPANHEIRO

Quando encontro-me entre farpas

Ou vejo trincar meu escudo

Se, trombeteio minhas verdades

Ou talvez a eloqüência do mudo

Nunca me sinto sozinho

Tenho os percalços expostos em tranças

Tenho dores como lembranças

E tuas palavras como ninho

Se, douras a minha armadura

Enxerga-te neste espelho

És tu, que treinastes meus olhos

A ver o perigo no escuro e a vestir-se de vermelho

Na aurora de um novo dia

Ungistes a minha fronte

Preparando-me para o banquete

Encheste minha taça de vinho

Deste-me água da fonte

Se generosamente me tratas como um irmão

Entendo como uma benção de Deus

Desenhando-me o entusiasmo

Moldando-me o sorriso com as mãos

Companheiro de todas as estações

Agora, sou eu quem digo

Seja noite, ou seja, dia

Encontra em mim abrigo

Se gostares do que talhei em meu ser

Saibas que tu estavas comigo

Não penses que fiz sozinho

Enxerga-te em mim, amigo