Somos sons

Quem de nós saberia das horas equidistantes

Daquele nosso encontro ninguém se desencontraria

Naquela noite, qual de nós atrever-se-ia cantar

E o cheiro de uma cachaça ruim seria o refrão: amar

Amarga o nó da garganta de uma voz roca no meio de nós

Dona da cabeleira enrolada e macia, viva

E dos acordes de um violão saltam as notas estrangeiras

Letras confusas que não cantamos de uma lembrança passageira

E está quase amanhecendo e ficamos nós, todos juntos, nas fotografias, os nossos reflexos.

Escolho não usar o flashe porque a luz de cada um ali é que me guia e nem o zoom, pois, o que mais preciso captar de quem estou tão perto?

Lá no balcão se pede uma cerveja no grito

O samba profundo batido de modo antigo entoando nossos corações lá fora

Reconhecem-nos na madrugada, mas não vou aconselhar acolher seu paciente agora

É o peito de um, o abraço do outro, casais nas quinas da mesa, no fim de um cigarro, de papel, de palha (lembrei-me da geléia de amora)!

Fizemos de nós a melhor companhia da noite inteira

A música brasileira também nos acompanhou quietinha, como são as mineiras, de mil tons

Era o som de duas castanholas de uma bonita preta

Que celebrava o que é nada certo numa terça-feira, a noite era cinza

Conhecemos novos sorrisos, doces olhares

Frio contido, no meu cachecol marrom

Mas é só pra amanhã que prometo mais poesia às minhas novas companhias

É que na trajetória inusitada das ruas que eu descubro um novo som.

Erika Soares
Enviado por Erika Soares em 04/11/2011
Reeditado em 20/04/2015
Código do texto: T3316321
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