Noite das sensações inacabadas

Por que não param?

Porque não querem a carona do casal

Preferem caminhar pela avenida debaixo da chuva que começa

Para sentir o forte vento que assanha os cabelos

E parar para comprar sacos das pipocas de doce e de sal

Param para ficar debaixo de uma sombra de uma loja qualquer

Até que a chuva passe e a vida também

Pois o bom lugar dessa noite é longe e a noite será longa

Descendo e subindo as ladeiras urbanas da rua que é

Vê os asfaltos ainda por fazer?

São construções tomando conta da paisagem que acompanha os passos

E o pensamento fica tão concreto quanto o cimento daquelas paredes levantadas

Mais um quarteirão já dá para avistar a rota e o cansaço

Falta agora seguir reto, atravessar a esquina, subir algumas escadas

Que lá vão estar todos os bons sorrisos, vão estar os bons camaradas

E lá no fundo estão eles a chover brando e molhando corações em suas lágrimas felizes das canções

Um chega da porta e diz: querem mais emoção?

Eis as batatas em conserva rodando a mesa feito refrão

Um quer, outro não

E essa poesia nunca acaba...

Esta noite acabará em poesia

As bocas beijam de batom vermelho melhor B de beijar que o B de batata cortada ao meio

Uma boca que nunca beijou, foi beijada por inteiro

E o RAPentista de repente rimou

Falou de algo como a vida que levava

E o que ele trouxe da vida que até ali o levou

Ganhou atenção, para um amigo afirmou

''Só estou ao seu lado porque seu amigo eu sou''

E a vizinhança alterada com a música falada

Pede menos som e mais favor

Lá se vão todos os bons camaradas e as amadas

Naquele noite, ah sim, todos são

Amados, amores, amantes e se vão

E entre carros e embriaguez, acenos e talvez

Todos os sorrisos se espalham

Cada qual com seu lábio

Indo em direção à sensações inacabadas

Lança-se desejos em círculos

No meio da roda estão dois unidos

Pelo calor que tocava

Pela vontade que é quem manda a razão

Só encosta no poste para segurar a emoção

Dos drinques misturados com o vazio, cheio de momento

Coloca o cabelo para trás com as mãos amigas

Levanta e entra no corredor de meia-luz e deita

Conversa distorcida pela cabeça bagunçada e mais uma bebida

Só ventila no teto o vento que faz

Uma sensação acabou de acontecer

Ali na porta ao lado daqueles recortes de quadrinhos

Historinhas de amor infantil e amizade adulta

Acordam e se saúdam, bom dia e adeus solidão

Tudo começou naquela noite e ainda não é dia não.

Erika Soares
Enviado por Erika Soares em 27/12/2011
Reeditado em 20/04/2015
Código do texto: T3408367
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.