O PATRÃO
Você que se diz ser meu amigo
Vem cá comigo
A gente tem que conversar
Bem antes de você ser promovido
Falaram ao meu ouvido
Que o amigo ia mudar
Pois é, estão falando aos quatro ventos
Que o amigo anda dizendo
Que não sai mais pro almoço
Com a turma que sempre te ajudou
Quando você mais precisou
Sem nunca ter que olhar pro bolso
Eu sei que foi um tempo de dureza
A gente se juntava à mesa
E ria da própria desgraça
E no escritório então era uma festa
Virar a noite na hora-extra
Era um porre sem cachaça...
E agora que o amigo é promovido
Eis que me chega aos ouvidos
Que você está diferente
Com aqueles que tanto lhe tem apreço
Esse seu lado eu desconheço
O amigo esqueceu da gente?
Espero estar mesmo enganado
Pobre do encarregado
Que sempre segurou as pontas
Nas nossas saidinhas pro boteco
Porque ninguém era de ferro
E olha quem ficou com a conta?
E o amigo que já esteve nesse canto
Agora vem pra meu espanto
Calar-me diante do que ouço
Que hoje vive outra realidade
Pois seu amigo na verdade
Agora é dinheiro no bolso
Amigo, a coisa não é bem assim
Não vá se esquecer de mim
Não, não me venha com sorrisos
Eu tenho muitas contas a pagar
E família pra sustentar
E desse emprego eu preciso
Meu amigo
No entanto o que ouvi doeu-me o peito
Me deixou torto e sem jeito
E até mesmo sem reação
Raulzito já dizia e é verdade
Somos movidos à vaidade
E alimentados de ambição
Tola ilusão...
“Detesta o patrão no emprego
Sem ver que o patrão sempre esteve em você...
Será que é medo, por quê?
Você faz isso com você!”