Cadê minha Neguinha?
A menina espinafrada tinha rosto de bolacha.
Seus cabelos enrolados cheiravam à nega suada.
Ao amanhecer, havia tanta esperança....
O dia era pequeno, algoz de sua vontade de viver.
Em meio às estripulias, brincava de ser professora
com mil rotas sonhadas.
O pai compartilhou a ideia, foi morar na cidade.
Pulava, cantava, somava, com a tabuada no lápis,
e o mundo em sua cabeça.
É assim que acontece quando se é criança:
no mundo da brincadeira, o real se tece.
Cadê minha Neguinha?
Cresceu... prumo na vida tomou,
a menina que há em si ainda brinca de calcular.
E leva isso muito a sério.
Tornou-se matemática, professora? Não mais.
Agora é Doutora em tese e em conhecimento.
O cabelo da Neguinha?
hoje faz inveja, é longo e bem cuidado.
Joísia