O melhor amigo

Tudo corria muito bem entre nós.

Todos te deixavam, e somente eu ficava contigo.

Era seu confidente, seu melhor amigo.

Você triste ou feliz, eu sempre estava lá.

Para te ouvir, para tentar te consolar.

No início muita atenção eu recebia

Você me tratava bem, com carinho, com amor.

Mas depois algo aconteceu, e você me rejeitou.

Não mais queria comigo conversar

Nem uma única palavrinha ousava mencionar.

Ou melhor, me falava muitas palavras.

Não de amor e nem de carinho...

Eram somente de ira de raiva!

Não entendia o porquê daquilo tudo.

Parece que queria me expulsar de seu mundo.

E de pouco em pouco começou a me expulsar

Não mais me deixava ao seu lado estar

Preso em uma coleira, me deixara por muito!

Nem água nem comida, nada me dava.

Eram outros que vinham me alimentavam.

Um dia, você decidiu por fim a tudo.

Expulsar-me de vez de seu mundo.

Gritou! Berrou! Enfureceu-se completamente!

Eu ficava mudo, impassível, sem reação.

E pensava em meu íntimo:

O que fez este pobre cão? Para merecer tamanha humilhação?

Os gritos evoluíram para uma agressão.

Ele fez uma coisa inédita, que nunca tinha visto.

Para mim, levantou sua mão.

E não foram poucas pancadas,

Muito me machucou e quase quebrou minhas patas.

Após apanhar, ele começou a me arrastar.

Levava-me em direção à rua

Olhava sua face e percebia sua determinação

Naquele dia, você estava decido a fazer uma coisa:

Abandonar o seu cão.

Ia sendo arrastado sem entender

Afinal o que fiz a você?

Será que não peguei aquela bolinha rápido o bastante?

Ou será que não me comportei bem?

Por favor! Diga-me o que fiz!

Fale para que eu possa mudar

E juntos a gente possa voltar a ser feliz.

Por favor! Diga-me o que fiz!

Penso que não há nenhuma culpa em mim

Você que se decidiu, e nossa amizade teve fim.

Fui deixado em lugar estranho, nunca o tinha visto.

Fiquei muito assustado, com medo de tudo aquilo.

E agora o que vou fazer?

Nada pude fazer por certo tempo

Até que veio alguém que me desamarrou,

E minha sorte e vida lançadas ao vento.

Vaguei por muitos lugares, buscando te encontrar.

Pensava que tinha se esquecido de mim

E que outrora fosse me procurar.

O tempo foi passando e estava enganado.

Não havia mais ninguém ao meu lado,

Somente a fome e aquele vento gelado.

Quisera que tudo aquilo fosse meu delírio,

E que em algum lugar estivesse me esperando, meu melhor amigo.

Infelizmente não foi meu delírio.

Aquilo tudo foi minha dura realidade.

Anos de lealdade e que ganhei?

Nada! Somente o seu ódio e desprezo.

Parecia que nunca me amara.

Por todo aquele tempo, pareceu que somente me suportara.

Agora suporto essa terrível fome e solidão

Não sei o que me vai acontecer.

Só tenho uma certeza.

Pode ser que um dia eu durma e não acorde

Esse será o dia em que vou morrer.

Antes de morrer algo me aconteceu

Vieram até mim algumas pessoas, más eu creio.

E muitas coisas ruins me fizeram,

Bateram-me, com madeiras e pedras.

E depois de muito apanhar, tentei me mover.

Mas não conseguia, minhas patas não podia levantar.

Que tragédia não mais posso andar!

Não me resta esperar mais nada nessa vida.

O meu melhor amigo me abandonou.

O meu corpo foi ferido e se estragou.

Só a morte poderá me libertar.

E ela veio pouco tempo depois.

E morto, de minhas dores pude descansar...

Rafael H S Lima
Enviado por Rafael H S Lima em 18/11/2013
Código do texto: T4575991
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