Novo Dia

Mais um dia sem amor. Mais um dia sem sentido, sem motivo. Levanto, faço a higiene e entro na cozinha, a fome se vai e dá espaço ao desânimo. Nunca fui uma pessoa que gosta de compartilhar problemas com amigos, primeiro porque amigos tenho poucos, segundo porque meus problemas são complexos demais.

Saio de casa, cumprimento o vizinho pois pessoas felizes agem assim. O ônibus passa, dou sinal, e já entro em busca de um canto para ficar sozinho. É até cômico, me sinto solitário, mas a solidão já se tornou algo tão intrínseco que já busco-a. Fones de ouvido, os verdadeiros amigos de qualquer pessoa. Clico na playlist de músicas mais tristes e assim passo meus 25 minutos de viagem.

Metrô. A grande metáfora da vida que para pessoas suscetíveis a sofrer é um prato cheio. Entro no primeiro vagão e vejo um casal. Será que vou morrer sozinho? Provavelmente. Se eu não gosto de mim, quem gostará? A felicidade está para mim como a água para o óleo, o contato é até possível, mas nada os tornarão miscíveis. Pensamentos como esse se tornam recorrentes, e a cada estação que passo percebo que a vida é muito mais simples do que as pessoas dizem. Ou você é feliz, ou você é infeliz. Ou você está vivo, ou morto. Apenas.

Chego na minha estação de destino, desço e encontro conhecidos. Meus pensamentos dos últimos 50 minutos são substituídos por um "Bom dia! Estou ótimo, e você?". A mentira de início é complicada, mas com tempo e prática até você acredita que está bem. É isso é positivo, pois te afasta por algum tempo da verdade, que todos sabem ser muito mais cruel.

Chego na faculdade, cumprimento colegas como se meu dia fosse sensacional e radiante como comercial de margarina. Sento-me, assisto a aula, e penso se aquilo é o que realmente quero para mim. Faculdade é uma pressão desnecessária sem aplicada em pessoas sem estrutura nenhuma para recebê-la. Quando alguém estará pronto para escolher o que fazer para o resto da vida? Acredito que seu tempo de vida tem que ser muito curto para tomar tal decisão.

Saio da faculdade, pego o metrô e em seguida o ônibus, mais 50 minutos de pensamentos desconcertantes. Chego em casa, ligo para o meu pai, conto sobre como meu dia foi incrível, sobre como o e diverti com meus bons amigos e sobre as coisas incríveis que aprendi na faculdade que tanto amo.

Desligo o telefone, contato com muitas pessoas me incomodam. Esquento uma lasanha de microondas, janto ouvindo meus vizinhos dando gargalhadas enquanto assistem uma novela qualquer com personagens admiravelmente perfeitos. Quem dera uma vida de novela, achar minha cara-metade, ter um problema qualquer e saber que no fim da estória haverá um "felizes para sempre". Deito-me, e mais uma avalanche de pensamentos mórbidos me consome. De que adianta bater na mesma tecla e tentar evitá-los se todos os dias lá estão? Ponho-me a dormir de jeans, all-star e jaqueta, o ânimo para levantar e me trocar ficou perdido há muito tempo neste relato.

Penso, penso e penso, e no fim vejo o que o melhor é não pensar. Me entrego à escuridão sabendo que amanhã será um novo dia.

Gobstopper
Enviado por Gobstopper em 18/04/2015
Código do texto: T5211158
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