Desculpe-me, mas, não deu desta vez

Desculpe-me, mas, não deu desta vez!

Conheci um homem que se orgulhava de seus amigos.

Dizia o mesmo, alegremente, de sua vida amigueira;

De suas amizades verdadeiras – “a amizade é tudo”

O homem não entendia que na terra nada é definitivo. Dizem que tudo vira pó.

Está no pó a prova do que dizemos ou ouvimos, ou vemos.

O pó é a coisa mais sincera entre os homens.

Nossos amigos em nada diferem do pó. Cada um deles é poeira que vira poeira.

Meus amigos se escondem quando é preciso.

E eu faço a mesma coisa quando eu necessito.

Se tu és um amigo ali é porque eu sou um amigo aqui.

Cada um em seu lugar e a amizade no meio.

O melhor amigo; aquele que parece um irmão, aquele que diz o que não quero escutar é joia rara; é peça de museu, é um ente histórico; é um carro velho na contramão.

Ontem, vi o melhor amigo no centro da cidade.

Ele fazia compras; paquerava as moças; lutava por seus direitos; mas, quando em pé, defronte a prefeitura, o rapaz se calou.

O melhor amigo foi trabalhar no município; aprendeu a lição da repartição.

Ele fez amizade com todos. Dizem que nem o gato escapou.

- Estamos à disposição.

- Ele é tão bom!

- Ela é tão boa!

Nós somos um manancial de bondade;

Nós somos a falta de verdade;

Nós somos a afirmação de toda contradição. O meu espelho reflete uma multidão de faces e eu não conheço nenhuma; eu nego todas elas.

Existe uma face minha que ninguém resiste.

Existe uma face tua que também é minha que ninguém contesta.

Não temos nada escrito na testa!

Não se sabe nada do coração!

“As aparências, ó aparências!”

Nisto eu encontrei muita ciência.

O melhor amigo passou por aqui.

Deixou um bilhete; era um pedido de desculpas:

“Desculpe-me, mas, não deu desta vez!”

Roosevelt leite
Enviado por Roosevelt leite em 29/08/2016
Reeditado em 01/11/2016
Código do texto: T5743474
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