Lágrimas de Damasco

Que parem as bombas

Aquelas pensadas

Para nossa vergonha

Nosso supremo embaraço

Em Washington

Em Riade

Em Moscovo

Em Jerusalém

Depois lançadas sobre o povo de Damasco

E embora revoltado

Eu

Um europeu

Nada faço

De forma a impedir o genocídio

Daquelas que ficaram

Daqueles que não conseguiram ser um refugiado

Nada faço

Porque deixei de saber o que fazer

Quando vejo outro povo

Que não o meu sofrer

Nada faço

Porque nestes dias

Na televisão

Na grande rede

Tornou-se banal

Trivial

O terror se ver

Porque o sofrimento

Alheio

Foi transformado em mais um objecto de consumo

Que depois de usado

Depressa se vai esquecer

Parem o nojo

Parem a morte

Tão friamente partilhada

Em redes sociais virtuais

Até deixar de ser moda

Até outra tragédia ser inventada

À espera não da sua resolução

Mas de uma lágrima

Nossa

Também ela partilhada

Uma lágrima

Que não vai servir para nada

Enquanto não impedirmos

Que mais uma bomba seja lançada…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 25/09/2016
Reeditado em 25/09/2016
Código do texto: T5772162
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