Nóia de classe e lupino

Estava ali nas ultimas

Aquele homem negro sorrindo

Com um dente de ouro,

Envolto num cobertor

Abraçado numa garrafa de pinga

Em baixo da marquise,

Senhor Jose Augusto magro fraco e velho,

Sua barba longa e cabelos compridos,

Tentava dormir ali no relento,

Frio maldito de Curitiba

Seu melhor amigo era lupino

Um cão tão doente quanto ele...

Ambos maltratados pela vida na rua

Ambos traídos no passado,

Jose Augusto pela mulher

Que fugiu levando tudo que era de Jose Augusto

Inclusive seu melhor amigo,

E lupino por seu antigo dono

Que se mudou e na mudança esqueceu

Do amigo canino...

A vida é algo esquisito!

Muitos passavam por ali,

Mas ninguém via Jose augusto...

Nem mesmo o Lupino...

E na noite de 7 de julho,

Lupino morre de velho

E Jose Augusto de cirrose,

Tuberculose, hipotermia e rancor.

Jose Augusto foi um homem de classe,

Em seus bons tempos tivera um sedã preto,

Uma mulher bonita e dinheiro pra gastar,

Dinheiro que comprou inveja,

Mas Jose Augusto...

Foi um nóia de classe, morreu sorrindo,

Sua classe estava no sorriso,

Não por seu dente de ouro...

Mas por morrer sabendo,

Que mesmo ali fudido,

Nessa vida ele teve um amigo,

Seu cão fiel, bravo lupino...

As 3:33 quando o termômetro marcou zero grau em Curitiba apareceu um anjo de asas negras, funcionário exemplar do Deus morte levou suas almas para um lugar mais bonito.

Leandro C Sbrissia
Enviado por Leandro C Sbrissia em 14/10/2016
Reeditado em 14/10/2016
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