NOSSA AMIZADE

Aninhado em seus braços

esqueci-me da solidão e do frio noturnos;

não temia mais o correr das horas:

estava seguro, eu bem sabia.

E não me importei quando as lágrimas

abundantes verteram, molhando-lhe os braços;

absorvido demais com meus dilemas,

desmanchando-me em dor e lamentos

mal reparei que os delicados pelos

de seu antebraço eriçaram-se

em contato com minhas salgadas

e tristes lágrimas.

Entre soluços e tremores, desabafei minha dor:

eu queria consolo, carecia de apoio;

tanto tempo de abandono deixou-me incrédulo

calado mas, por razões ilógicas, abri-me contigo.

Passamos a noite, inertes, naquele sofá

pouco dormi, muito falei;

sei que me ouviu e compreendeu meu despudor:

seus olhos castanhos, sinceros, me confirmaram.

Ao raiar do dia, nada me disse:

levantou-se, serviu-me café;

após o banho partiu para a repartição,

outras queixas, burocrática e pacientemente, ouviria.

Deixou uma muda de roupas limpas para mim

senti que nossa amizade se fortalecia.

*Poema publicado no livro Antologia de Prosadores e Poetas Brasileiros Contemporâneos, da Porto de Lenha Editora.

o livro está à venda no link: http://www.portodelenhalivraria.com/6862557-Antologia-de-Prosadores-e-Poetas-Brasileiros-Contemporaneos-2016

Raphael Cerqueira Silva
Enviado por Raphael Cerqueira Silva em 08/01/2017
Reeditado em 08/01/2017
Código do texto: T5875800
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