Rubentes Ninhos

Moça singela que engrinalda os ares

Na flor de teus suspiros e perfume fresco,

Ao casto amante, que por ti se inflama

E tanto ama, concede-lhe refresco.

Faz palpitar um coração candente

Unido ao seio vasto e colo doce,

Extrair beijos de rubentes ninhos

E com carinhos contemplar-te a face.

Da primavera reverdece as aras

E torna ledo amor fraco e indeciso

De modo que o lirismo expansivo

Vibre festivo na casa do teu riso.

Tu és um vale de formosuras, quando

Abres os braços, o ar suspira, as aves cantam,

As fogosas harpas do gracejo ardente

Clamam, e contentes teu nome decantam.

Paisagens claras tens no olhar mimoso

Onde o cismar vê um coração luzente.

Deixa eu sonhar um sonho de andorinhas

No céu que aninhas no olhar meu, veemente.

Como um império de bálsamo e ouros

Distende a tenda do oriental cabelo

E deixa-me vagar entre o sol claro

No murmur caro em frases de desvelo

No colo terno e em volúpias tantas

Quero te dar delírios arquejantes!

Oh! vem, mulher! O bardo em chamas feito

No teu alvo peito faz afagos transbordantes.

Oh! linda amante, moça dos meus anelos

Como é puro o canto em que navego!

Vamos vagar atoa no infinito

E dormir na boca de um pélago!

Meu corpo ardente te convoca em alvoradas,

Chama teu corpo, freme, palpita balbuciante.

Vou te beijar como um relâmpago de flores

Na festa dos amores, no enleio extasiante!

Tu és o ninho- eu o condor errante.

Tu és a praia- eu o viajar cansado

Que, após longas procuras, se arremessa

Na promessa do teu leito de amor bordado.

Moça singela que engrinalda os ares

Na flor de teus suspiros e perfume fresco,

A esse amante, que por ti se inflama

E tanto ama, concede-lhe refesco.

1993