Parto (A canção da fênix renascida)
Parto
(A Canção da Fênix Renascida)
Parto, parto
Em cada passo... parto
Em cada instante... parto
Em cada sorriso, cada abraço
Em cada palavra, em cada verso
Parto o cabresto dos olhos
De quem não enxerga o que está diante
Parto os nós que me faziam títere
Parto diante dos olhos esbugalhados
Daqueles que se pretendiam gente
Parto meus laços entre os dentes
Num vácuo de lógica, da cárie do tempo
Numa fisgada de vívida alegria
Da chaga onipresente
Parto sobrevoando labirintos
Solto, distante de mim mesmo
Num vôo sem asas, a esmo
Vôo de Fênix recém-nascido
Parto de toda a gente
Da caverna da solidão mais fria
Quando presente, quase ausente
Imerso no tempo-espaço que pressentia
Acelerando o motor da vida
Rumo aos desvios que futilmente traço
Parto com meus versos sob o braço
Deixando um rastro de emoção esvaída
Parto no riscar de um raio
Num súbito clarão de arrependimento
Chego perto e, ao mesmo tempo, saio
Parto no frescor de cada momento
Parto levantando saias, atravessando cabelos
Triscando coxas causando calafrios
Soprando arrepios nos ouvidos
Parto, parto sempre, mas sempre pra tão perto
Parto oceano, chego deserto
Parto escuridão, para pousar no clarão do Sol
Parto flutuando no rio do meu sangue
E chego corisco riscando o azul do Céu
Parto com meu ego e meus lamentos
Debaixo da chuva de olhares perplexos
Dissoluto na escuridão dos cegos
Evaporado na variação dos ventos
Parto sempre antes mesmo
Que se apercebam quando chego
Parto fugitivo do meu medo
Parto ainda tarde
Antes que me seja cedo
Parto meus liames e liberto
Parto novamente e infinito
Parto à procura do que é bonito
Parto errante a outro amar tão certo
(Djalma Silveira)