O teu prazer é minha arte

O teu prazer é minha arte

No afã de te tocar, moldei as águas com meus dedos

De todos meus segredos, nada há mais p´ra te contar

A fim de te agradar, já superei todos os meus medos

Cedi aos teus desejos, teus brinquedos quis brincar

Procuro nos teus olhos essa sombra: o meu reflexo

Que tiro do teu sexo, como um óleo a porejar

De tanto desejar, o meu pensar perdeu seu nexo

Seguindo o teu complexo e tão voraz jeito de amar

Senti se desmancharem os meus lábios nos teus beijos

E mesmo a minha pele na tua língua se desfez

Senti na tua tez o doce d´um longo desejo

E o mel de uns lugarejos que sorvi com avidez

Bebi d´embriaguez que brota farta da tua boca

Na sempre muito pouca emanação que inconsciente

Consome os vãos da mente, que se torna nula, oca

Que linda és assanhada, nua, louca e indecente!

De que me serve o pente, se esta mão o acaricia

O rio que, em cascata, me sufoca: o teu cabelo

Que teço com desvelo num perfume que vicia

A pele delicia-se em sentir roçar teu pêlo

Aguardo o teu momento, pois é nele que m´afogo

Mas que não venha logo, pois me perco em desfrutar-te

Amar-te mais, enquanto os vis desejos catalogo

O mais, pois, ab-rogo. O teu prazer é minha arte

(Djalma Silveira)