ANJO


Meu anjo não tem asas
Penas fibrilares encravadas nas costas
Mas tem a pele alva, macia
como um campo de algodão,
e sardas salpicadas no colo
como se duas borboletas insistissem em
espalhar pegadas de ouro sobre um lençol

Meu anjo não tem túnica branca
nem padece tê-lo
pois não há cor bonita demais que lhe ofusque
nem opaca demais que tire sua graça

Meu anjo tem olhos profundos
que remetem, por certo, aos
recônditos de sua alma clara
Impossível fitá-los sem se perder
no espelho diáfano de suas íris

Ah! Meu anjo...
Não sabe flutuar,
E ainda assim está sempre me levando
a lugares que eu jamais alcançaria
com os próprios pés

De tão doce, sua voz parece pincelar
estrelas cintilando numa imensidão de paz
E mesmo no meio de uma algaravia
Faz-se perceber em um terno sussurar

Seu cheiro, embriaga sem entorpecer,
e me leva a campos abertos em meio a flores rupestres
é um sem nome de sensações convertidos em uma ânsia
de desfrutá-los com medo do fim
mas que tolice... é tão simples de se dizer! tão simples definir:
é um cheiro de anjo.... de um anjo dourado

De um anjo matreiro
que passa por mim sem nada querer
e sem nada querer, já me enfeitiça
mas anjos não enfeitiçam
apenas encantam
e desse encantamento... ah! dele me entorpeço

Anjos têm uma simplicidade linda
mas meu anjo vai muito além disso
é de uma perfeição assimétrica
antagônica à sua própria despretensão
desafiadora de sua própria natureza

Meu anjo tem um nome lindo
simples como ela, mas poderoso como ela
Mas basta eu olhar pra ela pra esquecer de tudo
até de respirar
até mesmo de seu nome
Então eu lhe chamo "meu anjo"
e o sorisso que me devolve
me traz de volta o ar
me devolve à vida que ela mesma tirou
quando decidiu viver longe de mim








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