EU QUERO O FUNDO
Não vivo nas superfícies.
Quase sempre me
aprofundo nas pessoas.
Vou no imundo de cada um,
navego nos restos fecais.
Na maioria das vezes essa
experiência tem sido dolorosa.
O que eu encontro é um mundo
mal resolvido, que fica
ali fingindo não existir.
Mas é meu jeito de sentir,
não vou parar.
Eu preciso ver e sentir o
sujo do outro.
Pra depois olhar dentro de mim
e aceitar o meu feio, o me sujo,
aceitar a minha própria merda.
Já tentei ficar no raso.
Já provei pra mim mesma que não sei
nadar nas correntezas alheias.
E, ainda assim, quando dou
por mim estou lá, afogada
nas emoções dos outros.