Astrolábios
Astrolábios
Os lábios sibilam lamentos
E enquanto se beijam sedentos
Enfeitam-se de batom
Aquele encarnado tom
Que rima c’o desespero
Da língua a lamber tempero
Saliva que é muito bom
Delícia que vem da boca
A toca mais plena e oca
Um lábio lambido evoca
Um rubro pecado em fruta
A dor onde apraz a busca
A boca que breca brusca
Qu’ofega e afaga, assusta
Um lábio encarnado e tenro
Que tenta em ruína e erro
Aos quais asseveram sábios
Sediços melífluos lábios
Estalam hostis astrolábios
No brilho de dentes qu’espouca
D’abóboda escura da boca
A boca negando provoca
Lá d’onde a lascívia s’esgota
E louca se torce, mas gosta
(Djalma Silveira)